sexta-feira, 26 de março de 2010

Uma fome que poucos têm

Ando procurando (e gerundiando) não dizer coisas do sentir. Talvez porque o sentir é incerto, particular, pode não agradar. E eu tenho um certo problema com isso de agradar, note. Um dia, quem sabe, isso muda. Mas por enquanto, agrado desagradando. Posso não satisfazer quando for essa a intenção.

Isso não me impede de sentir. E digo. Que minha geração tenta ser mais bonita e descolada que as demais, percebo. Mas nunca a mais ousada e perspicaz, lamento. Queria uma vida de manifestações fundadas. Ou talvez alguma espécie de "manual do rebelde com-causa". Afinal, eu tenho causa. As minhas. As nossas. Todas. Não pode continuar como está. Até o que é bom pode melhorar.

Sinto que sou - e as coisas do sentir eu creio serem incertas, sim, não vou me contradizer - uma estranha no ninho. Sendo o ninho composto pelos habituados e perfeitamente situados em um modelo "se eu tiver o que me basta, pode continuar assim, tá bom pra mim".

Pra mim não tá bom. Pra mim podia ser mais.
Há faca. Há queijo. E que Adélia me permita: Há fome.

Próximos estejam, sempre, os que notam que o recheio é mais importante que a casca. Imensamente.

quarta-feira, 24 de março de 2010

As três estrelas

Estas letras serão tão breves e com conteúdo tão específico que eu não saberia dizer se são apenas um complemento, ou então uma crítica às que as antecederam. Nasceram pra dizer apenas que eu não gosto de ser pela metade. E que eu não gosto de meio termo, de atitude morna, de vida equilibrada. Que não estou disposta a chegar em casa querendo que tivesse sido mais do que realmente foi. Que sou agora, sempre, muito, excessivamente. Pra dizer que eu não consigo alcançar êxito sem ser reconhecida.
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Eu não me contento com dez sem as três estrelas.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Um metro de vida, ou sessenta e cinco centímetros de maturidade além da média?

Eu não gosto da denominação PRECOCE, e acho que não gosto - justamente - porque a mim soa sendo o sinônimo de: Você não viveu tudo que tinha pra viver, na fase exata pra que isso acontecesse. Tenho impressão de que pulei alguma coisa quando sou chamada de precoce. Ela é leve, mas nítida. E me faz pensar.
Você não viveu tudo que tinha pra viver quando não brincou de boneca porque estava interessada em gibis, não subiu em árvore porque nunca gostou de se sujar, não sentiu interesse em viver a fase do ficar com um desconhecido e achar isso o máximo, não sentiu aquilo que a sua amiga passou reprovando aquele ano no colégio, não cortou o cabelo porque tinha medo do que as pessoas pensariam, não viveu a liberdade que a conhecida teve de ir àquela festa, não amou de forma platônica um cantor de rock. Eu realmente não vivi a maioria dessas coisas. Será que elas fariam adequar-me à minha faixa etária?
Não sinto falta de passar por algo especificamente pequeno como os fatos citados, até porque se não vivi não sei o gosto que isso tem, mas ainda assim a ausência deles é presente. É ausência, é falta, em tempo mesmo é vontade de aprender com o que se viveu, e no caso, com o que não se viveu. Talvez fosse nessa etapa que eu aprenderia a não impôr a minha vontade a ninguém, fosse naquela outra que eu aprenderia a não fazer só o que esperam que eu faça, em outra a ter menos perguntas a serem feitas, em outra a não exigir mais do que já tenho, em outra a não precisar ser a melhor sempre.
Não sei quais foram as fases que deixei de viver que fizeram de mim alguém que tem maior idade em uma conversa do que na carteira de identidade. Infância eu tive, ou não saberia sonhar. Pré-adolescência eu tive, ou não saberia lutar e gritar se preciso for pelo que eu penso que é certo. Adolescência é fato, ou não me seriam tão frequentes as dúvidas. Portanto, acho melhor mesmo esquecer ou abstrair dessa história de ter antecipado algumas coisas durante a vida. Devo precisar, mesmo, (com sinceridade, muito mais do que de qualquer retroação...) apenas do que está por vir.