quarta-feira, 11 de abril de 2018

Eu caio e começo a rir

É verdade, eu juro. Te acontece também ou é só comigo? Porque quando eu caio eu realmente começo a rir. Quando era criança, chorava. Acho que chorava de vergonha. Não sabia o quanto cair é normal. Chorava às vezes até meio desesperadamente. Na época, eu achava que demonstrar que estava doendo faria as pessoas se compadecerem. Quase nunca acontecia. As pessoas mordiam o canto da boca, disfarçavam ou davam uma voltinha, mas eu sei que elas achavam cômico.
Ah! Teve a fase do beijinho. Eu ganhava um beijinho e sarou. Depois ficou meio sem sentido ir atrás de um beijo pra curar um tombo. Fiquei me sentindo meio besta, sabe? Então hoje em dia, se o dano não é muito grande, eu logo dou risada. Até porque não importa que haja gente olhando se eu disparar na gargalhada. Um momento eu comigo. Eu com meu tombo. É melhor zombar com a plateia, ou apesar dela, do que fechar a cara. Ou chorar, né, porque chorar dá umas rugas horríveis. Eu prefiro as do riso. É melhor ver alguma graça nas próprias quedas do que se martirizar por elas. Hoje, quando volto a pensar neles, todos os meus tropeços me divertem. Tem os tropeços "como pude!?". Tem os tombos "eu te avisei". Tem as quedas "de onde é que veio isso!?". E tem os arranhões que ficaram depois de cada um. Mas quando eu sou capaz de rir é porque já passou. Já passou. Eu sempre sou capaz de rir. Então é bom que comece logo após o tombo, não acha? Eu diria "depois do tombo inesperado", porém, a gente nunca tem como prever que vai cair, então seria pleonasmo. A gente pode, no máximo, intuir. E a minha intuição nunca foi forte que chega pra me impedir de cair.
Quando eu vou cair, eu me jogo. É um hábito de mais de uma década. Eu vou com violência contra o chão, ajudando a gravidade. Eu curto o meu momento. Depois eu rio. Assopro a ferida e vou mostrando os dentes, na certeza de que não foi o primeiro e nem será o último. Esse corpinho aguenta.
Antes até do que levantar, é o riso depois da queda a grande glória de quem cai. Demore ou não, ela sempre chega.